domingo, 2 de março de 2014

Copom eleva juros com PIB de 2,3%, abaixo da média mundial


Governo atual aumenta taxa Selic pela oitava vez e mantém média anual de 2%, menos que FHC
Ao fecharmos esta edição, os “comentaristas econômicos” da mídia, vanguardeados pela indefectível senhorita Leitão, agora dilmista de undécima hora, saudavam o resultado do PIB de 2013, divulgado na quinta-feira pelo IBGE, como “o melhor possível”.
Naturalmente, os 2,3% de crescimento do PIB são um desastre pouco comum até no governo Dutra (que, com todas as suas dificuldades e estreitezas, conseguiu que o país crescesse à média de 7,64% ao ano; aliás, até o governo Castelo Branco, com o notório Bob Fields no Planejamento, conseguiu chegar a 4,17% a.a., taxa vituperada por todos, até por Assis Chateaubriand, como uma desgraça na História do Brasil).
Até agora a média ao ano do atual governo está em 2% - menor que o governo Fernando Henrique, e, com apenas duas exceções, a menor dos governos da República. Se a previsão para 2014 (1,7%) for correta, essa média cairá para 1,9%.
Porém, com o oitavo aumento da taxa básica de juros – o piso dos juros da economia  – acontecendo no dia anterior, não se pode dizer que o resultado do PIB foi um soçobro das expectativas. Pelo contrário, como poderia ser diferente com a taxa real de juros subindo desde janeiro de 2013 – antes, ainda, que, em abril, o BC e o governo começassem a forçar a barra para aumentá-la ainda mais.
Certamente, a senhorita Leitão, e outros heróis da canalha, estão se lixando para o crescimento – simplesmente porque estão se lixando para o povo e para o país. O que interessa a eles é quanto o governo passa para aqueles que os bancam – precisamente, os bancos externos e as multinacionais vinculadas a esses bancos. Nisso, o atual governo tem sido pródigo. Logo, explica-se o entusiasmo com essas taxas rampeiras de crescimento.
É óbvio que aumentar, às custas do país, os ganhos dos bancos externos – que agora têm como motivo para chantagem a situação das contas externas, que a desnacionalização forçada levou até a beira do precipício - é a única razão de oito aumentos de juros seguidos.
Infelizmente, além do rancho da senhorita Leitão, há também o bloco dos trouxas – aqueles que, sem saber do que estão falando, já saíram dizendo que “o PIB dobrou” ou que foi “o terceiro maior crescimento econômico do mundo”.
Não foi, não, pessoal. A tabela comparativa que o IBGE exibiu era de “países selecionados”, não de “países do mundo”. E, mesmo entre os “países selecionados”, o PIB do governo Dilma ficou abaixo da média (3%). Ah, sim, e o PIB não dobrou – isso é que dá faltar à aula de matemática no dia em que o professor ensinou coisas como PA, PG, funções, etc., etc.
O fato é que, no terceiro ano de governo, a presidente Dilma não conseguiu chegar na mesma taxa de crescimento do primeiro ano, aqueles 2,7% que fizeram Paulo Nogueira Batista Jr., com toda razão, escrever: “Em 2011, a economia brasileira registrou crescimento medíocre. (…) Foi um desempenho bem abaixo do esperado, que não faz jus ao renome de economia emergente dinâmica, de estrela em ascensão na economia mundial. (…) Nesse ritmo, o Brasil cresce menos do que a média mundial”.
Pois o resultado de 2013 foi pior – também menor que a média mundial, e, repetindo, menor do que a média dos “países selecionados” (3%) com os quais o IBGE comparou o resultado que estava divulgando.
Certamente que vão aparecer alguns magos a louvar que a formação bruta de capital fixo (FBCF) – o investimento - subiu 6,3% em relação ao ano anterior, omitindo que a taxa de 2012 foi -4% (menos 4%), o que significa que o aumento de 2013 mal compensou a débàcle anterior.
Tanto isso é verdade que a taxa de investimento (FBCF/PIB) ficou em 18,4% do PIB, menor até do que a de 2011 (19,3%), que já era uma queda em relação à do último ano do governo Lula (19,5%). Por falar nisso, onde estão aqueles 25% do PIB de investimento que a presidente Dilma prometeu para 2014?
Se ainda houver alguma dúvida, basta conferir o gasto com  o núcleo do que se chama investimento, isto é, a compra de máquinas e equipamentos (R$ 460,741 bilhões). Ler esse número não é suficiente para perceber que é muito pouco para um país com as características do Brasil? Nem vamos nos referir, exceto de passagem, ao fato de que boa parte desse gasto é com importações. E, por favor, não se venha dizer que o gasto com máquinas e equipamentos aumentou 10,2%, porque é óbvio que essa comparação é uma roleta viciada, pois esse gasto caiu -9% (menos 9%) em 2012.
O que interessa no PIB, obviamente, é a criação de valor - o valor adicionado durante o ano, pois é ao aumento do valor na economia que se chama crescimento. Entretanto, em 2013, o valor adicionado aumentou menos que os impostos sobre os produtos, que também entram no cálculo do PIB: “A expansão do PIB resultou do aumento de 2,1% do Valor Adicionado a preços básicos e do crescimento de 3,3% nos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. O aumento dos impostos reflete, principalmente, o crescimento em volume de 3,5% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), decorrente, em grande parte, do desempenho positivo das atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana e Serviços de informação” (cf. IBGE, Contas Nacionais Trimestrais, 4º tri/2013, p. 15).
Aqui está o grande problema: a participação da indústria de transformação no PIB (13%) é inferior à da categoria “outros serviços” (15,7%), que engloba, além do ensino privado e da educação privada, as manicures, depiladores, barbeiros, empregadas domésticas, encanadores e eletricistas por conta própria.
O valor adicionado por toda a indústria cresceu apenas 1,3% em 2013 – em relação ao ano anterior.
O mais terrivelmente significativo é que a indústria de transformação quase não teve papel nesse crescimento, já por si muito pífio: “Na Indústria, o destaque positivo foi o crescimento da atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (2,9%). O desempenho da atividade Eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana foi puxado pelo consumo residencial de energia elétrica” (cf. idem, ibidem).
O leitor pode imaginar que esse seja o “destaque positivo” da indústria de um país grande e com economia complexa – como o Brasil? Pois nós não podíamos, até ver os resultados do IBGE.
Seria um bom “caco” de comédia mambembe a suposta notícia, disseminada pela mídia dos monopólios financeiros na manhã de quinta-feira, de que o Banco Central, preocupado com o baixo crescimento, aumentou a taxa básica de juros (Selic) em apenas 0,25 ponto percentual (p.p.).
No entanto, isso não é engraçado – porque equivale à declaração de um tarado que dissesse ter maneirado o ritmo dos estupros à uma vítima porque está preocupado com sua saúde.
A preocupação desses patifes é tão grande com o crescimento, que já anunciaram que sua meta agora não é mais chegar a uma taxa básica de juros de 11%, mas de 11,25%.
Esta é a oitava alta de juros consecutiva da taxa básica – o piso dos juros no país - que o governo, através do BC, impõe ao país. Em dezembro, o setor público já estava oferecendo aos bancos, em média, 16,9% por seus títulos - mas somente devido ao governo federal, cuja taxa média estava em 19,8%.
A taxa média do crédito às empresas passou, na quinta-feira, de 47,47% para 47,85%, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC).
Também na quinta-feira, a taxa média de juros para as pessoas físicas passou de 93,39% ao ano (ou 5,65% ao mês) para 93,83% ao ano (ou 5,67% ao mês).
Que economia – e que país – pode crescer desse jeito?
CARLOS LOPES
Fonte: Hora do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário