quarta-feira, 16 de outubro de 2013

HAROLDO LIMA: O HOMEM QUE QUER ENTREGAR O PRÉ-SAL!

Brasília, 16 de outubro de 2013
Por Waldir Ferreira
Realmente não espanta a quase mais ninguém que o senhor Haroldo Lima, outrora prócer da luta do povo e nacionalista ferrenho, siga sua cantilena em defesa de leilões, petroleiras e similares privatizantes. Desde que acoitou-se na ANP, e depois que saiu dela, ele tem se esmerado em bem representar essa matilha. Mas o seu artigo mais recente é o prego no caixão das esperanças de quem sonhava com a sua recuperação moral.
A peça intitulada “O interesse nacional e o leilão de Libra” foi, seguramente, rascunhada nos escritórios da BG, da Statoil, Exxon-Mobil ou mesmo do antro onde Lima hoje dá expediente de consultoria - a HRT Oil & Gas – uma associação entre o fundo especulativo do magnata norte-americano Mason Hawkins (o Southeastern Asset Management, Inc.) e o Discovery Capital Management, fundo especulativo de outro magnata, também norte-americano, Robert K. Citrone. De interesse nacional a tal peça não tem nada, mas tem muito de leilões e entreguismo.
O argumento balizador do Lima é o de que durante a 6° Rodada “as multinacionais do petróleo, a quem supostamente esses blocos seriam“doados”, nem apareceram no leilão, exceto uma, que disputou três blocos, em sociedade com a Petrobras. As grandes petroleiras demonstram não tomar conhecimento das fantasias que lhes anunciam “doações” de imensas riquezas petrolíferas.”
Ele quer nos convencer de que as hienas e abutres que derramam sangue pelos quatro cantos do mundo em busca de petróleo não se interessam por imensas riquezas petrolíferas. Se visitar o papa, arrisca o Haroldo pedir a beatificação do Rex Tillerson, Peter Voser e do Bob Dudley. Como fiador dos milagres ele poderá recorrer ao depoimento de Enrico Mattei. Será uma profusão de santos marchando rumo ao nono círculo dos infernos.
Diz o Haroldo Lima que a luta contra o Leilão de Libra “esconde uma posição conservadora, imobilista e medrosa. China, Índia, Noruega, Canadá, Cuba, Angola e tantos outros países articulam-se com quem quer que seja para impulsionar seus desenvolvimentos. Empregam regulação que preserva suas soberanias e seus projetos nacionais.” Tem razão o lobista Lima! Ele só não diz que o instrumento usado para a preservação de suas soberanias é o controle estatal em todos os casos.
Cuba tem todo o seu mercado de petróleo (aliás, pequeno) operado pela estatal Cuba Petróleo (Cupet). A China tem três empresas de petróleo, todas estatais. A Índia explora petróleo através da estatal Oil and Natural Gas Corp. A Noruega é o terceiro exportador de petróleo do mundo, que é operado, depois da fusão da Statoil com a Hydro, por uma única empresa, a StatoilHydro, que pertence ao Estado norueguês e está presente em 34 países – mais do que a Petrobrás. Nenhum desses países permite a farra do boi pugnada por Haroldo Lima.
Em outro ataque histérico de lobismo desenfreado, o Haroldo ataca com essa: “Até a pérfida espionagem perpetrada pelo EUA no Brasil é aproveitada com o mesmo fito protelatório, imobilista. “Dados podem ter sido descobertos”, então, suspenda-se o leilão! Mas, que dados, se eles são públicos? E se a existência de espionagem, por si só, leva à suspensão de um leilão, e se a espionagem vai continuar, como previu o chanceler brasileiro Luiz Roberto Figueiredo, então, nunca mais tocaremos no pré-sal”.
Creiam-me! Essa é a transcrição do que ele escreveu. Os dados são públicos? Todos eles? Como assim, Haroldo? Nesse caso, devemos ser o único país do mundo que não guarda segredos de Estado, notadamente em um setor estratégico como o petróleo. Aliás, energia causadora de guerras e invasões militares mundo afora. Afora que ninguém está advogando nunca mais se tocar no pré-sal. O que defendemos é que ele não seja tocado pelas aves de rapina, das quais você virou representante.
Mas ele prossegue, falacioso: “Em Libra, o interesse nacional começou a ser resguardado quando o então presidente Lula convocou uma reunião extraordinária do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em 8 de novembro de 2007, para examinar o que fazer com o pré-sal recém-descoberto. Aí se constatou que 41 blocos, situados na área da descoberta, estavam na relação da 9ª Rodada de Licitações, que ocorreria em 19 dias. Quem os arrematasse, iria explorá-los com contratos de concessão. Como não se sabia ainda o que seria feito naquela área, decidiu-se, por proposta da ANP, retirar todos esses blocos da lista.”
Como tudo que ele tem dito em matéria de petróleo, trata-se de outra mentira! A verdade é que em 31 de março de 2009, logo após o Presidente Lula determinar a suspensão dos leilões, Haroldo Lima afirmou o seguinte, durante a Conferência “Controvérsias da política atual do petróleo no Brasil, no Rio de Janeiro:"Suspender os leilões, nos marcos legais atuais, é truncar o desenvolvimento do Brasil". Naquele momento, ele e a ANP defendiam a lei das concessões tucanas que, em substituição ao monopólio estatal getulista, garantia o direito de propriedade sobre o petróleo às petroleiras. Quem brecou o leilão foi o Presidente Lula.
Depois de esmerar-se em falsear uma série de outros dados, ele finalmente coloca a questão central: a criação de uma nova estatal para zelar exclusivamente do pré-sal, ou seja, a realização do sonho de todas as multinacionais: retirar do caminho um entrave chamado PETROBRÁS! Pô, Haroldo! Seja mais objetivo da próxima vez! Vá direto ao ponto! Todos já sabemos no que você se transformou!
* é presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, seção DF, e 2° vice-presidente do Partido Pátria Livre no DF